domingo, maio 06, 2007

Há que se crer na natividade da morte

Essa semana me deparei com dois episódios de perda de pessoas queridas que me levaram a uma reflexão a cerca da vida e da morte.

Recebi há algum tempo um email, como desses que recebemos as dezenas diariamente de diversas pessoas, e achei o texto muito interessante. O texto falava sobre a vida, comparando-a com uma viagem de trem. E ai, me arvoro da condição de plagiador do enredo do referido texto para extrapolar um pouco e comparar nossa existência entendendo-a não como vida , mas como existência infinita, onde temos uma alma imortal que creio viajar em uma jornada sem fim onde fazemos várias paradas em diversas estações.

Nessas paradas muitas pessoas entram e saem do mesmo vagão que nós. Muitas fazem diferença e influenciam nossa viagem, outras não, são apenas transeuntes do destino. Quase sempre uma delas senta ao nosso lado e compartilha da viajem conosco, conversando e observando a paisagem que se descortina na janela, nos ajudando a compreender as coisas, deixando que cochilemos no seu ombro, sendo verdadeiros parceiros da jornada. Outras vezes, a grande maioria, entra no mesmo vagão que nós, mas nem se dá conta que lá estamos, às vezes até nos são mal educados, pisam nos nossos pés, nos empurram, nos molham com seus guarda-chuvas molhados sem sequer pedir licença ou desculpas, disputando pelo melhor lugar do vagão para usufruir egoisticamente de sua viajem, sem importar com os que precisam por diversas razões de condições mais confortáveis, às vezes até indispensáveis para chegar até o fim da viajem.

Mas uma coisa para mim é muito certa, essa viagem, como todas as outras nos levará a algum lugar, pois não consigo conceber um trem cheio de gente, conduzido por alguém que conhece todos os caminhos, e que chegando ao final dos trilhos simplesmente parará, em um lugar escuro, vazio de tudo, onde permaneceríamos estáticos, esperando pelo nada, que para mim, e para a física moderna não existe.

Penso que esse trem nos levará a algum lugar, onde apenas desconfio onde seja, baseado em minhas crenças pessoais, e que lá no final da jornada desembarcaremos todos, e encontraremos algo, mas o que muito mais me importa não é o que me aguarda no final da viagem, mas sim como nos comportamos durante o trajeto.

Muito mais me importa o comportamento que temos com as pessoas que sentam ao nosso lado na jornada, as conversas que travamos, os conhecimentos que compartilhamos, o que cedemos e o que recebemos, a tolerância com o próximo, a gentileza que nada nos custa. Penso inclusive, ai mais uma vez baseado em minhas crenças pessoais, crenças essas que são compartilhadas por bilhões de pessoas em todo o mundo, desde os cristãos que crêem no céu aos muçulmanos que esperam pelas suas quarenta virgens no paraíso, e que essa conduta nos garantirá algum bônus pelo bilheteiro no final da viagem.

Penso que a forma como nos comportamos e agimos nessa vigem é que faz a grande diferença. Não podemos ser apenas expectadores da paisagem, colocando a cabeça para fora da janela para fugir do cheiro que exala do interior do vagão. Precisamos todos ser agentes de mudança nas condições interiores desse ambiente partilhado por todos, e quando pudermos, conversarmos com o motorneiro pedindo a ele que o trem siga rumos onde as paisagens sejam mais agradáveis.

Não temo o que vou encontrar no final da jornada, até porquê creio de fato na natividade da morte, e que essa vida é apenas mais uma parada em uma das várias estações da jornada, apenas queria que essa viagem fosse mais agradável a mim e a todos com os quais compartilho-a.

Às vezes nos vemos cansados e gostaríamos de sentar um pouco, trocando de lugar com os que chegaram mais cedo na estação e conseguiram um lugar na janela, pessoas que sentaram primeiro e pouco se importam com a mãe que carrega nos braços uma criança que chora faminta, uma senhora já idosa cheia de sacolas, um senhor apoiado em um par de muletas. Sejamos mais solidários na viajem, e principalmente cuidemos todos desse trem pois pode ser que sem os cuidados necessários ele fique pelo caminho apesar da sapiência e habilidade do condutor, mas acima de tudo, compartilhemos os lugares nas janelas para que todos possam apreciar a beleza das paisagens... Para que todos possam ver o Sol e as Flores Amarelas do caminho...

Quero ver todos vocês sentados na poltrona ao lado da minha durante toda a viagem, apreciando a paisagem, sorrindo, e às vezes chorando, junto comigo, conversando e contando histórias sobre as coisas que veremos, aprendendo uns com os outros e escrevendo um diário de viagem onde certamente registraremos muitas páginas de felicidade.

Ricardo Sérgio

Saudações fraternas e ecológicas

terça-feira, março 20, 2007

голубая земля ! ou... a Terra é azul !

Até quando poderemos reafirmar a tão famosa e conhecida constatação de Yuri Gagarin, cosmonauta russo que em 12 de abril de 1961 a bordo da espaçonave Vostok I confirmou ser a terra coberta por 70% de água, colorindo com os mais variados matizes de azul a superfície do nosso planetinha ?

Até onde vai a ignorância do homem com relação ao uso irresponsável dos recursos naturais, sobretudo do mais importante e essencial deles, a água, fonte da vida, origem de tudo ?

Até quando vamos continuar a nos comportar como vírus ? Como organismos que insanamente são capazes de destruir o hospedeiro que lhe sustenta a vida ?

O ser humano, historicamente vem demonstrando o quanto é estúpido e ignorante destruindo florestas, extinguindo pessoas, plantas e animais, numa velocidade tão grande que às vezes nem chega a lhes conhecer a existência e o valor. Plantas onde talvez residissem a cura de muitas doenças, quase sempre causadas pela desarmonia do todo, causadas pelo desequilíbrio do meio, pelo próprio homem, como se não fosse ele parte do próprio meio.

Permitam-me os companheiros fazer uma analogia talvez simplória mas certamente bastante esclarecedora. Que dona de casa em sã consciência dispondo de apenas de 2,5% do total do orçamento doméstico para administrar todas as necessidades de sua família desperdiçaria esses parcos recursos priorizando a compra de cosméticos no lugar de alimentos para sua prole ?

Pois é o que acontece conosco, donos da casa chamada Planeta Terra, pois do total da água existente no globo 97,5% é salgada, e para complicar ainda mais a vida de nós homo “que se acha” sapiens do total de 2,5% da água doce existente, a maior parte encontra-se concentrada nas calotas polares em forma de gelo, ou seja, encontra-se acessível apenas àqueles dispostos a caminhar bastante sob um frio de -40ºC para tomar um uísque on the rocks.

Apenas algo em torno de 0,3% de toda água existente na terra encontra-se nos rios, lagos e lençóis subterrâneos, ou seja, disponível para os mais variados tipos de consumo, sendo que desse total 12% encontra-se no Brasil, o que só reforça minha teoria de que Deus definitivamente adotou o Brasil como sua pátria. E só para complicar ainda mais, desse total de água disponível no Brasil, 80% está concentrada na região amazônica onde mora apenas 5% da população.

Outro dado relevante é que no ano zero da era cristã a população mundial correspondia a 3% da população atual. Hoje somos mais de 6 bilhões de pessoas enquanto a disponibilidade de água permanece a mesma de dois mil anos atrás. As novas tecnologias, na contramão da razão aumentam a demanda do consumo de água, chegando as classes abastadas a gastarem mais de 500 litros/dia per capita, em contrapartida à média das populações africanas que usam menos de 10 litros/dia, denotando a gritante injustiça na distribuição dos recursos materiais em nosso planeta. Soma-se a essas constatações estúpidas o fato de que 30% de toda água tratada e distribuída pelas companhias de água brasileiras são desperdiçadas em vazamentos. Quanta insanidade...

Falam alguns estudiosos do assunto que a continuar no ritmo que estamos, em 20 anos faltará água para 60% da população mundial. Segundo o Prof. Pasquale Steduto, especialista da ONU em gestão de recursos hídricos, mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo já não têm acesso a água limpa suficiente para suprir as suas necessidades básicas diárias.

Ufa ! É um sem número de números que expressa o quanto é preciso sermos responsáveis e acordarmos para o mal que estamos perpetrando a nós e a nosso planeta. É um sem número de números que demonstra inequivocadamente a importância de preservarmos o recurso natural mais precioso disposto por Deus à nós. É um sem número de números que prova o quanto somos estúpidos e não conseguimos enxergar o tamanho da enrascada em que estamos nos metendo, que este é um caminho sem volta, e que a água é um recurso finito.

Até quando vamos continuar a nos comportar como vírus ? Até quando vamos prosseguir com esse processo de esgotamento dos recursos naturais ? Seremos tão estúpidos ao ponto de levar a morte o nosso hospedeiro em uma atitude claramente suicida ? Quando vamos finalmente compreender o conceito que há por trás da palavra sustentabilidade ?

Até quando vamos poder reafirmar a constatação do cosmonauta Yuri Gagarin, que estupefato diante de toda beleza descortinada da minúscula janela da espaçonave Vostok I, cunhou com uma poética simplicidade a célebre frase голубая земля ! ou... A Terra é Azul !

quarta-feira, março 14, 2007

Reforma política e voto facultativo

Acompanhando os diversos comentários que tem circulado incessantemente nos vários blogs, revistas e jornais a respeito da reforma política, resolvi não me furtar ao direito de contribuir com minha reflexão a cerca do tema.

A primeira consideração que gostaria de fazer é que avalio ser muito ruim para a consolidação e evolução do processo democrático brasileiro que somente em face do turbilhão de acontecimentos vivenciados pelo meio político nos últimos meses, é que a sociedade tenha se visto compungida a refletir e se posicionar a respeito dessa questão, pois somente diante dos escabrosos fatos expostos pelos Jefersons da fauna política tupiniquim, o povo brasileiro acordou para a necessidade de se buscar um modelo eleitoral que privilegie os interesses mais nobres, dele eleitor, verdadeiro e legítimo mandatário dos destinos de nossa nação.

Diante de todos os fatos e factóides expostos pelas estruturas midiáticas, muitas vezes a serviço de interesses subalternos que obedeciam a estratégias de manutenção do poder de determinados grupos políticos e econômicos, o eleitor brasileiro, tal qual o marido traído da piada que é sempre o último a saber, se viu surpreendido e estupefato com diversos fatos para ele chocantes, como se desconhecesse ou nunca tivesse ouvido falar do que historicamente acontece nos bastidores da política brasileira.

Ainda tal qual o marido traído da piada, o eleitor brasileiro constatou surpreendido, estar sendo enganado pelos que deveriam ser os principais e fiéis depositários de seus mais elevados interesses políticos, representado-os e defendendo-os em retribuição ao voto de confiança sufragado nas eleições diante das promessas e compromissos assumidos nos diversos palanques eleitorais. Afinal é função precípua dos possuidores de mandatos zelar pela ética no trato da coisa pública resguardando os interesses da coletividade que o elegeu.

E depois do furacão que solapou o cenário político nacional, depois das feridas expostas pelos vários escândalos, restou como resultado dessa indignação a tardia constatação que apenas 35% da população conhece o funcionamento e se diz satisfeita com o atual sistema político eleitoral brasileiro.

E como de regra, a sociedade brasileira que se movimenta apenas diante de fatos que a chocam, haja vista o caso do garoto João Hélio, ligou o sinal de alerta e acionou todas as sirenes estabelecendo um caráter de urgência à discussão de uma proposta que viesse estabelecer a transformação do modelo eleitoral vigente, criando uma frenética discussão na sociedade a cerca da necessidade de uma reforma política que busque estabelecer novos patamares na relação entre o povo e seus representantes, onde os últimos se vejam chamados à responsabilidade diante dos que os lá colocaram através do voto.

As acaloradas discussões recentemente estabelecidas trouxeram a baila temas como fidelidade partidária, financiamento público de campanhas, proibição de coligações em eleições proporcionais, voto distrital, voto em listas fechadas, redução dos mandatos de senadores de 8 para quatro anos, cláusula de barreira para impedir a existência das legendas de aluguel, fim da remuneração para vereadores de cidades com menos de 100.000 habitantes, redução do número de senadores de 3 para 2 por estado, coincidência dos calendários eleitorais, enfim, um sem número de propostas e idéias, algumas ao meu ver coerentes e outras estapafúrdias e inconstitucionais, a exemplo da proposta da cláusula de barreira que versa sobre a extinção de siglas partidárias pequenas, mas muitas vezes significativas e imprescindíveis ao cenário político nacional. É certo que algo precisa ser pensado no sentido da coibição da prática da criação de pequenos partidos que servem unicamente como trampolins eleitorais para determinados grupos ou personalidades políticas, possibilitando absurdos como a volta ao cenário político do Sr. Fernando Color de Mello dentre outras aberrações eleitorais.

Mas um tema que não tenho visto ser discutido, e ai vem a provocação, ao menos com a mesma amplitude e intensidade das temáticas supra citadas é o voto facultativo. Penso que apesar das distorções e dicotomias políticas ainda vivenciadas pela sociedade brasileira, e que apesar de todos os vícios político/eleitorais vivenciados pelos candidatos e eleitores, detemos maturidade política suficiente para incorporar o voto facultativo no rol das propostas discutidas na reforma política.

Penso inclusive que o voto facultativo, junto com outras iniciativas como o voto em lista e a fidelidade partidária, viriam no sentido do fortalecimento das estruturas dos partidos, fazendo com que o eleitor passasse a se interessar mais e participar ativamente, acompanhando com mais crença e senso crítico as ações dos seus representantes nas várias instâncias legislativas.

Tenho observado no povo brasileiro uma vontade crescente de participação política que seria qualificada com o voto facultativo, dificultando o processo de “arrebanhamento” de eleitores desinformados pelos maus políticos, quebrando assim uma das principais estratégias de manutenção do poder dessas elites, ainda dominantes, sobretudo nos municípios menores, onde a informação, conscientização e capacidade de mobilização e organização política são ainda sonhos distantes da maioria das pessoas e organizações da sociedade civil.

É preciso insistir no sentido da evolução desse falido sistema de Democracia Representativa atualmente vigente, para uma Democracia Participativa, onde se estabeleçam mecanismos de participação popular que se auto regulem e evoluam constantemente, garantindo a efetiva participação do Cidadão na condução dos destinos do Brasil tornando-os, eles eleitores, povo brasileiro, sujeitos de seus destinos, e esse processo de empoderamento passa necessariamente por uma reforma política ampla, num debate franco e democrático com todas as estruturas da sociedade.

Saudações Fraternas e Ecológicas.

quinta-feira, março 08, 2007

Infâncias Roubadas...

Ontem como de costume, no trajeto até o trabalho me deparei com uma realidade cotidiana que por mais cotidiana que me seja, sempre me choca e me indigna. A realidade das dezenas de crianças mendigando moedas nos semáforos, das milhares de crianças que tem cotidianamente suas infâncias roubadas.

Mas ontem em especial algo me comoveu e mexeu comigo ainda mais, muito além do que me comove e me revolta todos os dias quando deparo com essa cruel realidade. Ontem, dentre as várias crianças que perambulavam entre os carros em busca de uma moeda que pudesse servir de lenitivo a sua fome, havia uma criança com um sorriso e um olhar diferente, ou talvez meu olhar estivesse diferente à questão no dia de ontem, não sei.

Apenas sei que aquele sorriso diferente, diferente dos outros de todos os dias, talvez até na mesma face, me desafiou a mais uma vez refletir a respeito desse problema que sempre me inquieta. Mas dessa vez essa inquietude me fez ir além, me fazendo partir para o insistente exercício da escrita nesse espaço virtual. Dessa vez, minha inquietação me fez buscar com vocês companheiros de Blog e de indignação a reflexão a cerca dessa questão, me fazendo ponderar a cerca do que eu tenho feito, do que nós sociedade temos feito e poderíamos fazer no sentido da erradicação dessa mazela além de dar esmolas. Que me perdoem os sociólogos e assistentes sociais de plantão, mas eu me declaro sem nenhum constrangimento um doador de esmolas.

Tenho a convicção e clareza de que pouco contribuo com esse ato, tanto que procuro sempre me engajar em desafios que busquem esse enfrentamento de forma mais sistêmica e estruturadora, mas a esmola para mim é uma questão pessoal, íntima, dogmática, e que me critiquem os que quiserem, a mim e a Dom Helder Câmara que também era um adepto do óbulo aos necessitados.

E além do mais, numa análise conjuntural e mais profunda há que se considerar que diante da gravidade e da enormidade do problema, tudo o que a sociedade tem feito na verdade, não passa de esmola, as vezes moral, as vezes material, mas ainda esmola, quase sempre compensatória, quase sempre no sentido de aliviar seu sentimento de culpa diante do próprio imobilismo.

E essa inquietação que me tomou, me faz questionar até quando seremos, nós sociedade brasileira, ladrões de sorrisos, ladrões de infâncias.

Acho inclusive que o crime de roubo de infâncias deveria ser enquadrado na Lei de Crimes Hediondos, pois nada há mais hediondo que se roubar o sorriso e a alegria de uma criança, nada mais hediondo que se roubar a oportunidade do crescimento de um adulto completo, de um ser integral, pois que sem essa fase fundamental da vida, nos tornamos algo que não humano, um arremedo de gente, que não aprendeu a sorrir, pois é lá, na infância que se aprende algo tão fundamental.

E em se enquadrando como um crime hediondo, uma punição severa deveria recair sobre os que perpetram tão abominável crime contra a humanidade, pois o intangível que se rouba nesse caso, é raro, precioso, único, tão importante e fundamental quanto o cálcio contido no leite necessário ao bom crescimento ósseo de nossas crianças, quanto o ferro contido no feijão, base de nossa alimentação, quanto as proteínas das carnes tão raras na maioria das mesas brasileiras, pois tanto quanto tudo isso, indispensável a sobrevivência do corpo, o ser para ser humano, precisa de sorrisos, de alegria, de ser criança um dia, precisa das coisas da infância para se construir adulto, para se construir humano.

Quando lhe faltam os nutrientes do corpo quase sempre se cresce um adulto raquítico , frágil, despreparado para as lutas cotidianas, para a competição infligida pela insana luta pela sobrevivência desse mundo mercantilista.

E quando lhe falta a alegria de ser criança ? Os sorrisos e as descobertas inerentes a essa fase da vida ? O lúdico, os sonhos ? Que deficiências do caráter e da alma vão aflorar nesse adulto ? Quais raquitismos morais e éticos se farão presentes nessa pessoa.

E aí reitero a reflexão. Até quando nós, sociedade brasileira, vamos continuar a roubar impunemente os sorrisos das faces de nossas crianças ?

Reconheço que avanços houveram a exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente. Reconheço que algo se tem feito, sobretudo pelas instituições da sociedade civil e por instituições como o UNICEF/UNESCO, pouco pelos governos e legisladores, mas uma distância abissal ainda separa essa dura realidade do sonho de não termos mais crianças nas ruas, nos lixões, sobrevivendo em favelas, fora da escola, desnutridas, agredidas, agressoras, violadas, violentas, assassinadas e assassinas, traficantes e vítimas do tráfico, assaltantes e assaltadas nos seus direitos básicos e fundamentais, no seu direito de ser criança, como se criança não fosse, como se fossem adultos que não tiveram infância e se tornaram em algo que não humano, num arremedo de gente, muitas vezes cruel, fria, desumana, que desrespeita a tudo e a todos e desafia a sociedade rumando para a marginalidade, que não sabe amar porquê desconheceu o que é ser amado quando criança, que não sabe sorrir porquê não aprendeu a sorrir quando criança.

Quem de nós, privilegiados que tivemos infância não lembra dos momentos mágicos e únicos vividos nessa etapa de nossas vidas ? Dos sonhos, alegrias, descobertas, aventuras, brincadeiras e músicas que povoam nossas memórias mais doces, amizades sinceras... Quem não tem uma boa recordação de sua infância ?

No instante que se discute a redução da maioridade penal, acho que seria mais prudente se discutir em um debate amplo e franco na sociedade, o aumento da responsabilidade de cada um com essa questão.

Até onde somos responsáveis individual e coletivamente por esse quadro desolador posto diante de nós ? Não estaremos dando tiros nos próprios pés, tiros na própria alma quando negamos a milhares de crianças o direito de ser criança ? Quando negamos a milhares de pessoas o direito de serem humanos, inteiros, completos, um dia criança, depois jovem, adulto e idoso, com seus direitos e deveres garantidos em cada etapa de suas vidas, fechando o ciclo que forma o ser humano integral, o ser humano cidadão ?

Saudações fraternas e ecológicas.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Feliz Ano Novo, Feliz Homem Novo

Nesse período do ano, no limiar de mais uma jornada, quando nos despedimos do ano velho e diante da perspectiva do novo, do imponderável, do desconhecido, dos desafios que virão, e que ainda nos são quase sempre desconhecidos, normalmente nos vemos fazendo uma avaliação de tudo que se passou no ano que finda, como se fosse a exibição de um curta metragem de nossa vida, onde pegamos um trecho desse longo filme, realizado quadro a quadro nas lutas cotidianas, resultado de nossas vivências, alegrias e tristezas, coisas boas e ruins, filme onde quase sempre somos o protagonista, às vezes o diretor, e algumas vezes apenas ator coadjuvante.

E normalmente nessa época, diante da exibição desse curta, nos transformamos em espectadores de nossa própria vida, observando e avaliando tudo que nos aconteceu no ano que acaba, sobretudo as coisas ruins e os erros cometidos, por nós, e nos arvorando da condição de juízes, os erros cometidos pelos outros em nossas vidas. Avaliamos as conquistas e as perdas, para que nessa reflexão busquemos no ano vindouro errar apenas erros novos e conquistar aquilo que não atingimos.

E diante dessa reflexão, quase sempre nos vemos fazendo as tais Resoluções de Ano Novo, onde afirmamos a nós mesmos que no próximo ano tudo vai ser diferente, que aquela dieta que não conseguimos começar nas várias segundas-feiras do ano que acabou, dessa vez vai, e assim, vamos perder peso e nos enquadrar no padrão estético vigente, talvez até uma academia de ginástica, uma plástica, um botox quem sabe.

Nos vemos dizendo que "esse ano vou me dedicar mais ao trabalho, vou ganhar mais dinheiro porquê é preciso colocar meu filho na faculdade", tem também a compra do carro novo, ou talvez aquele curso de línguas prometido em resoluções anteriores e nunca iniciado. Coisas das mais diversas, mas tudo sempre nos debruçando sobre as coisas que não proporcionamos a nós e aos “nossos” no ano que acaba.

Aí vem a provocação. Se realmente realizássemos, todos, uma profunda avaliação do que fizemos e principalmente do que não fizemos no ano que se vai, enxergando-nos como parte de um todo, parte de um coletivo, desfocando o olhar dos nossos umbigos, quase sempre flácidos pela falta da academia de ginástica não iniciada, talvez no lugar de resoluções de dietas, compra de carros novos, cursos de línguas, daquela tão sonhada viagem ao exterior, estaríamos resolutos a verdadeiramente não errar mais os erros egoístas errados nesse e em vários outros anos de nossas vidas.

Estaríamos resolutos a talvez em 2007 estabelecer outras metas. Metas como visitar e ajudar uma creche ou um orfanato, levando às crianças que lá vivem sem pais ou família uma palavra de afeto e esperança, esperança de um ano novo, de um ano melhor, de uma vida melhor.

Estaríamos resolutos talvez em sermos mais tolerantes e carinhosos com nossos filhos, pais, parentes, incluindo aí os cunhados, amigos e colegas de trabalho, distribuindo algo que nada nos custa e tanto faz bem, afeto, sorrisos, bons dias verdadeiros, abraços, coisas que nada nos custam, coisas do ser.

Estaríamos quem sabe decididos a realizar algum trabalho voluntário para uma instituição social ou talvez a abraçar uma causa como a defesa do planetinha onde vivemos, tão esquecido e maltratado nos anos que vem e que vão, maltratado por erros novos e o que é pior por erros velhos, pela ignorância do homem, que juntamente com os vírus, são os únicos seres que destroem e matam seu hospedeiro.

Aí sim, estaríamos nesse processo de descobrimento dos valores reais e das realizações verdadeiramente importantes, comemorando não apenas a chegada do ano novo, que a bem da verdade, trata-se apenas de uma convenção da humanidade para organizar as atividades da sociedade criada por um Papa chamado Gregório em 1582, mas estaríamos comemorando a chegada do homem novo dentro de cada um de nós.

Vamos parar e refletir sobre o que podemos fazer de bom, de novo, de diferente, não apenas a nós, mas ao próximo, ao nosso irmão em humanidade, dando um pouco do que tivermos a dar, e olhe que sempre temos, por menos que tivermos, sempre temos algo a dar, pois nesse país ainda tão injusto com a maioria das pessoas, muitos têm menos, muito menos que nós.

Vamos buscar fazer um 2007 mais fraterno, de mais paz, solidariedade, justiça, amor, e a partir do espocar dos fogos da zero hora do dia 01 de janeiro de 2007, deixemos explodir dentro de nós esses sentimentos nobres, fazendo nascer nos nossos corações, novos homens, que se renovem todos os dias, todo o tempo, todos os anos de nossas vidas.


Feliz Homem Novo, Feliz 2007.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Para alívio dos amigos que por consideração acompanham o Blog, o título do texto é: Última mensagem do ano.

Pensei muito, antes de batizar o Blog. A princípio minha idéia era buscar um nome que remetesse as questões vivenciadas por mim no cotidiano profissional, Meio Ambiente, Planejamento, Gestão de Lixo, Participação Política, coisas com as quais eu lido e prepotentemente creio conhecer, mesmo que pouco, algo a respeito.

Mais aí, depois de muito matutar, conclui que você, raro acompanhante do Blog, eu, nossa cidade, nosso mundo é muito plural e Diverso, e francamente, essa pluralidade do eu, do outro, do mundo, é que dá graça e estimula a todos nós, ajudando-nos a levantar todo dia e enfrentar as batalhas pessoais e coletivas do cotidiano, batalhas plurais, batalhas Diversas.

Por isso resolvi batizar o Blog de Diversitas, e também sejamos francos, isso me traria a possibilidade, e porque não ser ainda mais franco, o álibi de escrever a respeito do que me desse na telha.

Faz pouco tempo que iniciei o exercício da escrita nesse maravilhoso espaço virtual, e tenho colocado como desafio, encontrar tempo para dentre as inúmeras atividades do cotidiano, rabiscar um novo texto a cada semana, buscando trazer para a reflexão questões Diversas do nosso mundo, sob minha limitada ótica e capacidade de percepção.

Como o ano está acabando, as semanas finais vão ficando menores e ainda mais atribuladas, não sei se terei oportunidade de colocar um novo texto até o limiar do ano de 2006. Por isso, enlevado pelo espírito de Confraternização que envolve a todos nós nesse período, ou que ao menos deveria, não apenas em dezembro mas durante todos os dias de todos os anos de nossas vidas, resolvi escrever exatamente a respeito disso. Confraternização.

Primeiro pensei em escrever algo divertido, que narrasse as histórias engraçadas vivenciadas por todos algum dia, nas várias confraternizações que somos convidados e as vezes até intimados e constrangidos a participar no mês de dezembro, mas aí lembrei da maioria de nossa população que não é convidada muito menos intimada a participar de nada parecido. Momentos festivos, com comidas e bebidas à mesa, CD´s sendo trocados por agendas, canetas por gravatas, apertos de mão por sorrisos amarelos.

E lembrando disso resolvi adotar outra abordagem a esse que provavelmente será o último texto do ano, para alívio dos raros amigos que por consideração, lêem o que escrevo para carinhosamente, e por respeito a minha amizade tecer comentários normalmente entusiásticos. Resolvi buscar o significado mais amplo da palavra e o conceito mais universal do ato de confraternizar.

Resolvido isso, a princípio, como sou cristão tal qual a maioria de nós brasileiros, o que primeiro me ocorreu foi discorrer a respeito do aniversariante do mês, chamando à atenção os muitos cristãos que esquecem o que se comemora em dezembro, confundindo Jesus com Papai Noel.

Pensei em falar da mercantilização do aniversário do cristo, que numa estratégia capitalista dos americanos o transformou em Papai Noel, buscando aumentar suas vendas e lucros, convencendo a todos nós, incautos do capitalismo, que é preciso Confraternizar presenteando o próximo com algo material.

Pensei também em refletir a respeito da data definida como a do nascimento do Cristo, arbitrada pelo imperador romano Constantino, que numa estratégia política tornou o cristianismo a religião oficial do império romano, incorporando à "nova religião" dentre vários outros, os cultos pagãos do solstício, que eram em dezembro, ajudando a manter a unidade do seu império. Minha provocação seria a que Cristo nasce todos os dias, em vários lugares, no coração dos homens, independente das conveniências de Constantino ou do Papa Bento XVI.

Mas logo, relendo o que havia escrito até então, atentei ao segundo parágrafo do texto e pensei... Como posso num Blog chamado Diversitas escrever, refletir, enaltecer unicamente a figura do Cristo, mesmo sendo cristão (não católico) convicto ? E nossos irmãos dos cultos afro-brasileiros ? os budistas, xintoístas, hare krishnas ? os irmãos indígenas sobreviventes, que crêem, apesar da histórica expropriação dos seus valores religiosos e culturais, nos seus deuses que não são os meus, mas que numa análise mais aprofundada do processo cultural de formação do meu eu, brasileiro, de certa forma até o são ?

Mas ainda assim, mesmo diante do respeito a essa pluralidade, deixo aqui a referência a todas essas figuras, e me arvoro do direito de escrever sobre a experiência crística, mas não sobre o Cristo figura divina, apesar de crê-lo assim no meu íntimo, numa relação que só eu e ele entendemos, mas escrever sobre o cristo enquanto filósofo e exemplo de conduta moral, de amor e Confraternização, como também o foi Buda, Maomé, dentre vários outros.

Independente do exemplo moral que busquemos, seja em Jesus ou em outra figura histórica com sua envergadura moral, exemplo de amor, perdão, sacrifício pelo próximo, doação, fraternidade, há que se estabelecer uma referência a essas figuras buscando nelas o exemplo, e enxergando que nessa sociedade do ter, que estabelece entre nós a discórdia da disputa, da luta insana pelo sucesso, pelo acúmulo de bens, acúmulo das coisas que com o tempo perdem a cor, ficam velhas e apodrecem, se perde o essencial, que é como se vive, e o bem que na nossa curta passagem por aqui fazemos a nós, ao próximo e a coletividade.

O que quero trazer para a reflexão, é que precisamos resgatar a mensagem original do Cristo, desvirtuada no transcorrer dos séculos pela hipocrisia de parte da igreja católica, e de várias outras que a sucederam e ainda a sucedem, disputando a aflição e a salvação da alma das multidões de desprovidos de bens de toda natureza, materiais e espirituais.

Busquemos resgatar a mensagem original do cristo que nos fez tentar enxergar o ser humano integral. O ser que não dissocia os valores espirituais dos materiais, mas sem deixar um à frente do outro, sobretudo o material à frente do espiritual, o ter a frente do ser. Busquemos resgatar a mensagem do cristo de doação, de fraternidade, de amor, de perdão, de respeito à Diversidade, de partilha, de Confraternização.

Vamos confraternizar presenteando com os valores do que somos, não com o que temos, aí, se abrirá quem sabe, a oportunidade de Confraternizarmos verdadeiramente, como fez o cristo, com os que têm, e principalmente com os que não têm, podendo então trocar presentes com quem nada tem a dar em troca, a não ser um sincero sorriso, um simples obrigado, ou até quem sabe uma lágrima de comoção e alegria.

O momento festivo é muito bom e também faz muito bem a alma, pois quase sempre é engraçado, arrancando gargalhadas de todos diante dos embrulhos misteriosos e das definições que se faz a respeito do presenteado antes da entrega dos presentes, e por isso penso que devemos, nós privilegiados, continuar a trocar canetas por CD’s, gravatas por perfumes, mas vamos avançar seguindo o exemplo do Cristo e fazer muito mais que isso, vamos trocar também sorrisos, afagos, palavras amáveis, carinho, atenção, fraternidade, perdão, amor, quem sabe um forte e verdadeiro abraço de amigo, de irmão, a um amigo ou a um estranho, mesmo que não recebamos canetas, CD’s, gravatas ou perfumes, mesmo que não recebamos nada em troca, resgatando aqui outra mensagem do Cristo que recomenda a “doar sem esperar recompensa”. Esse para mim é o verdadeiro sentido de Confraternizar, por isso convido a todos, vamos nos Confraternizar verdadeiramente, sempre.

Saudações ecológicas e um 2007 de muita Paz.

Ricardo Sérgio


terça-feira, dezembro 05, 2006

Catadores de Cidadania

Essa semana conversando com uma colega sobre uma problemática vivenciada por mim durante muito tempo por força da minha atividade profissional, e que sempre, e ainda me deixa indignado, resolvi rabiscar algumas linhas a respeito.

A questão dos catadores de lixo dos lixões. Trabalhei por dois anos no lixão de Aguazinha em Olinda e mais dois anos no lixão da Muribeca em Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, destino de todo o lixo produzido pelas cidades de Recife, Jaboatão e Moreno, algo em torno de 2.2 milhões de habitantes, perfazendo um total aproximado de 2.600 toneladas de lixo despejadas diariamente naquele local, 72 mil toneladas todos os meses. Além disso, viajando também por força do trabalho, conheci os maiores e principais lixões do Brasil, BR-040 em Belo Horizonte, Gramacho no Rio de Janeiro, Salvador, Aura em Belém, dentre vários outros.

E a convivência diária com a dura realidade vivenciada pelas hostes de sofredores que retiram desses lugares sua subsistência, transformou minha vida, me fazendo ver diversas coisas, senão quase tudo, de outra maneira.

Hoje estima-se que existam mais de 400.000 catadores sobrevivendo quase como animais, das sobras da sociedade, nos mais de 5.000 lixões espalhados pelo Brasil, dados antigos, pois pouco se estudou a respeito nos últimos anos, sendo o repositório mais confiável de informações a respeito, o Projeto Cidades do IBGE.

E aqui começa a provocação. Vamos fazer uma reflexão e pensar no quanto é injusta e cruel à sociedade brasileira com a maioria da sua população de desvalidos, sobrevivendo abaixo da linha de pobreza com menos de R$ 150,00 reais por mês, aí os números divergem, se fala em 35 milhões, alguns falam de 75 milhões de pobres, às vezes com uma frieza estatística como se por trás desses números não existissem pessoas.

Agora imaginemos, que se já é um enorme desafio sobreviver nessa injusta sociedade, violenta, onde falta educação, saúde, infra-estrutura, distribuição de renda, enfim, cidadania, o que dizer dos que sobrevivem dos restos dessa sociedade, dos que buscam o sustento do que essa podre sociedade considera podre, sobrevivendo daquilo que é colocado na condição de lixo, daquilo que não lhe presta, que é rejeito, daquilo que não mais lhe serve, podre sociedade.

É preciso abrir os olhos a essa grave e enorme questão. Temos vivendo nas nossas grandes, modernas e tecnológicas urbes, verdadeiras tribos, com costumes, hábitos, dialetos, valores éticos e morais absolutamente diferentes. Não exagero nas palavras nem os coloco, catadores, em situação humana menor, apenas constato o que vi e vivenciei. Aqueles que discordarem que busquem a experiência da convivência com esses grupos.

São inúmeras tribos de catadores de lixo e cidadania, que vivem inteiramente a margem da sociedade, não se enxergando, o que talvez seja o mais grave, como parte da mesma, pois na lógica dessas tribos, direitos a educação, saúde, água tratada, documentação, saneamento, moradia, não são direitos para eles, são para os outros, são coisas abstratas, sequer sonhos.

Sei que a maioria do povo brasileiro, aí voltamos para os números, 35 ou 75 milhões de pobres, também sonham esses sonhos, mas ao menos sonham, e dessas pessoas, junto com a cidadania direito de todo brasileiro, roubaram até o direito de sonhar, pois tudo isso para eles, cidadania e sonhos, é para os brasileiros, outro povo, estranho, com outras lógicas, valores e padrões comportamentais.

Até quando vamos nos calar e continuar cegos a isso. Reconheço que algo tem sido feito. Conheço dezenas de projetos, na sua maioria de instituições da sociedade civil, que se mostra indignada com os cenários dantescos tão bem retratados pelo artista Sebastião Salgado, que com sua capacidade impar registrou em fotografias essa realidade, mas é preciso muito mais.

Precisamos reconhecer as iniciativas como as do Fórum Lixo e Cidadania, do qual tive o orgulho de fazer parte nos primórdios de sua constituição, com o apoio imprescindível do UNICEF, mas há que ser feito um mutirão da sociedade capitaneado pelo poder púbico, que estabeleça políticas públicas inclusivas para esses irmãos jogados literalmente no lixo pelo status quo dominante.

Soma-se a isso a questão ambiental. O aspecto da economia ambiental que a eliminação desses infernos proporcionaria para a sociedade, uma vez que a implementação através de políticas públicas governamentais, de teorias como as dos 4Rs, Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar, demandaria menos insumos e menor exploração dos recursos naturais.

Por isso conclamo ! Industriais, empresários, empreendedores de visão, abram os olhos, pois tudo isso pode ser uma enorme e inesgotável fonte de geração de lucro, pois todos geramos, eu, você, os mais de 180 milhões de brasileiros, todos os dias, quase um quilo de “lixo”, e é possível auferir grandes lucros desse inesgotável negócio, ancorado nos princípios da sustentabilidade.

Outra questão é que precisamos ficar atentos ao exemplo de Olinda, e de inúmeras outras cidades brasileiras, pois logo não vai mais haver espaço físico para a construção de novos aterros. E aí ? Onde vamos criar mais cemitérios de riqueza, que é como eu vejo os aterros e lixões.

Para concluir, apesar da relevância da questão ambiental, bandeira que abracei desde sempre, e que a tragédia da falta de políticas públicas para o setor vem perpetrando ao patrimônio natural brasileiro, comprometendo a qualidade de vida das futuras gerações, para mim a questão mais grave e que se faz mais urgente, é a do homem, é a do catador, é a das milhares de crianças que tem roubadas suas infâncias e negados seus futuros.

Não diria que a missão é resgatar a cidadania dessas pessoas, pois para mim é muito claro que o desafio é maior, é necessário um processo de instituição dos conceitos de cidadãos para essas pessoas, porque a eles tudo foi sempre negado, e aí então, em um mutirão que mobilize governos e sociedade, estabeleceríamos através de políticas públicas governamentais, com a participação do setor produtivo, um processo real de inserção desses irmãos, fazendo com que se vejam como gente, como brasileiros, iguais mesmo que pobres, como os 35 ou 75 milhões das estatísticas, mas gente, como a gente.

Com a palavra Manuel Bandeira

“Vi ontem um bicho,
Na imundície do pátio,
Catando comida entre detritos,
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava,
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho,meu Deus, era um homem”

quarta-feira, novembro 29, 2006

Onde é a África ?

Essa semana a convite de alguns amigos, fui a um Afoxé lá no Alto da Sé em Olinda. Apesar de ser cristão convicto e Kardecista desde berço, tenho enorme respeito, admiração e alguma compreensão das religiões afro-brasileiras.

Já havia ido a muitos outros ensaios de Afoxés, e também como admirador de todas as manifestações culturais e religiosas de nosso povo, também já havia freqüentado rituais afros dos mais diversos, maracatus, terreiros de candomblé, rituais de jurema, até a um casamento de umbanda tive oportunidade de participar. E foram todas vivências inesquecíveis tanto pela beleza do sincretismo, dos ritos, ornamentos, coreografias e principalmente pelo bater contagiante dos tambores que marcam os rituais, envolvendo você de tal forma que é impossível não se deixar envolver e simplesmente se ver parte daquilo, de uma forma nata. Acho que como dizem, está no nosso sangue plural, com um forte tempero africano.

E fica aqui o convite, para os que ainda não tiveram a oportunidade do contato com essas manifestações culturais e religiosas, que o façam, pois certamente muito vai acrescer em seu entendimento a respeito do processo de formação de nosso povo e nossa cultura.

Mas se vocês voltarem algumas linhas acima, talvez sintam falta, os mais observadores, que exaltei diversos aspectos dos rituais afro-brasileiros, menos o que talvez seja o mais belo de todos os seus componentes, que são os cânticos, os belos cânticos em Nagô e Ioruba, que são a base e o fio condutor de todas essas manifestações religiosas. Porque essa é exatamente a provocação que quero trazer com o texto de hoje.

Como falei, não sou profundo conhecedor da cultura afro, mas desde o primeiro contato que tive em minhas andanças aqui pela terrinha, e em várias viagens que fiz ao Maranhão, Alagoas, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, e Salvador, célula mater do candomblé e de todas as manifestações oriundas da Mãe África, venho me perguntando, e sábado em especial, quando estava lá no Afoxé, inebriado pela batida dos tambores e agogôs, reafirmei a pergunta.

Porque todos, ou quase todos os cânticos entoados nos rituais são de lamentos, porque todos ou quase todos os cânticos remetem ao passado do africano trazido ao Brasil acorrentado nos porões dos navios, porque todos ou quase todos os cânticos falam dos açoites sofridos pelos nossos irmãos nos pelourinhos, da saudade deixada pelos que conseguiram escapar dos “caçadores de escravos” separando famílias e comunidades na África do passado ?

Não quero aqui de forma alguma relegar ao esquecimento com essa provocação o passado de luta e resistência dos nossos ancestrais africanos. Mas quero lembrar que é preciso olhar para o passado com vistas à construção de um outro presente, melhor, e de um futuro de sonho, sonho de igualdade e justiça, aqui e na terra mãe.

Outro aspecto que me faz refletir é que além de tudo de abominável sofrido pelos ancestrais africanos, havia também certamente muito de belo, que pouco escuto nos cânticos entoados nos terreiros de candomblé, não creio que no vocábulo Iorubá não existam palavras belas, doces, que falem de amor, de sonhos, de paz, de fraternidade, de alegria.

Porque pouco se exalta o lindo passado dos ancestrais africanos/brasileiros que resistiram, e a custa de muitas vidas conquistaram algo que sempre pertenceu a eles, presente de Deus, Deus dos cristãos, Deus dos africanos, Deus dos Budistas, Deus de todos nós, a liberdade de ser vivente, iguais a todos em tudo ?

E o que me incomoda ainda mais, é a pergunta que deixo para os pensadores do assunto. Onde e como está a África hoje ? Ainda se fala Ioruba e nagô, só que o que hoje se fala nesses dialetos, que são apenas dois, dos milhares existentes na Mãe África, não versa sobre cortes de reis e rainhas africanas, de açoites nos pelourinhos, das senzalas, dos castigos infringidos pelos capitães do mato, dos sofrimentos dos porões dos navios. Hoje se fala nesses dialetos a respeito de outras realidades, tão, ou talvez até mais dura e cruel.


Onde estão hoje os Orixás ancestrais invocados e cultuados nos rituais afro-brasileiros, terão se mudado para o Brasil vindo nos porões dos navios negreiros ? Ou estarão vivos na áfrica de hoje ? Terão cessado os sofrimentos dos que vivem hoje do outro lado do atlântico ?

Hoje não há mais, graças à força e resistência dos nossos ancestrais e ao processo do progresso natural da “humanidade”, ainda que muito lento, o açoite do chicote na mão dos coronéis e dos senhores de escravos aqui no Brasil, mas lá, do outro lado do Atlântico, há o açoite da AIDS, que mata todos os dias mais de 6.000 pessoas entre adultos e crianças. Há o açoite da expropriação das riquezas materiais do mais sofrido dos continentes, onde "se trocam vidas por diamantes". Há o açoite da fome que mata milhares de pessoas todos os dias de inanição. Há o açoite das empresas transnacionais e das mega corporações que continuam a perpetrar o processo de escravidão daquele povo, fomentando guerras que se transformam em genocídios. Recomendo a quem ainda não assistiu, o filme Senhor da Guerra com Nicolas Cage.

E fica a questão para os conhecedores e combativos companheiros do Movimento Negro e dos movimentos religiosos afro-brasileiros. Porque não se lamentar nos seus cânticos pelo presente, sem claro esquecer o passado... Porque não se espelhar no passado para combater e estabelecer a resistência do presente, não só aqui no Brasil do preconceito racial e social, mas sobretudo lá na África, onde ainda se faz presente o chicote na mão dos sem alma e coração que continuam a enxergar pessoas como mercadorias, vendendo e comprando a dignidade e a cidadania daquele povo, nosso irmão ?

Ou será que a África, berço de todos nós, não é mais problema nosso. Será que o quinhão que nos cabia de resistir e combater veio junto com nossos primeiros irmãos negros nos navios negreiros. Onde vivem hoje nossos orixás ? Onde vivem nossos ancestrais ? Apenas no passado de resistência do negro brasileiro ?

Tenham certeza que hoje existem milhares de Zumbis dos Palmares lá na terra mãe, sendo açoitados pela injustiça e pela expropriação de suas riquezas materiais e imateriais. E nós, que tanto fizemos e temos feito no movimento de resistência e luta contra o preconceito racial, de afirmação de nossa cidadania plural, que responsabilidade temos com esse processo ?

Talvez não possamos interferir muito daqui desse lado do Atlântico, na quebra desse processo de escravidão que ainda se encontra o povo africano, mas podemos ao menos nos indignar e entoar cânticos com novos lamentos e exaltações, que instiguem a resistência e a luta do povo africano, e num fluxo contrário ao feito pelas caravelas do passado, talvez possamos mandar para lá, nossa Terra Mãe, não mais em porões de navios, mas através da Internet, dos meios de comunicação, dos trabalhos acadêmicos, e de ações efetivas, a força e a resistência que descobrimos dentro de nós, vindas de lá, forjadas nas lutas de nossos Zumbis e Zés do Patrocínio, pelos Orixás e ancestrais do passado.

Com a palavra meus companheiros do Movimento Negro.

Saudações Fraternas e ecológicas.

Ricardo Sérgio

sexta-feira, novembro 24, 2006

Paradigma do Protagonismo

Queria encerrar a semana deixando para os raros companheiros que acompanham meu blog, fica aqui o agradecimento, a seguinte provocação. Até quando vamos dormir o sono do imobilismo ?

O mundo muda a cada volta que dá, a cada novo dia, hora, minuto e segundo. Novas tecnologias, velhas maldades, novas idéias, velhos preconceitos, mas sempre mudando, às vezes evoluindo às vezes involuindo, usando como referência para isso a acepção da palavra progresso, e o Brasil definitivamente, e cada vez mais, faz parte desse processo globalizado de transformações, desempenhando um papel fundamental, não só como “celeiro do mundo, pulmão da terra, maior fonte de energia renovável do planeta, detentor dos maiores mananciais de água doce superficiais do planeta”, mas temos, a meu ver, uma responsabilidade ainda maior.

Temos a responsabilidade de ser muito mais que a grande alternativa de disponibilização de energia e alimento que virá garantir a subsistência da raça humana nos próximos séculos, acho que temos, e podemos ser um exemplo de sociedade, no mais amplo sentido da palavra.

O resultado do processo de miscigenação e formação do brasileiro, plural, forjado nas lutas libertárias de todos os povos que hoje se fundem para formar uma única raça, a raça brasileira, a despeito de muitos que ainda carregam vários preconceitos estupidamente em seus corações, achando que são brancos, pretos, índios ou estrangeiros, soma-se ao fato de ser Deus brasileiro, o que nos imputa essa responsabilidade com o resto do mundo, de ser referência de justiça social, distribuição de renda, e o mais importante, distribuição de afeto e alegria de viver, enxergando-nos a todos como pares, como iguais.

Temos o compromisso de ser exemplo para o mundo, ensinando aos racionais alemães, aos disciplinados japoneses, aos mercantilistas americanos, como se distribui a alegria de viver que só esse processo de formação da raça brasileira, com as bênçãos de Deus nosso conterrâneo, conseguimos aprender.

Acho até que deveria ser instituído um índice que medisse isso, Índice da Alegria de Viver, talvez até o haja e em minha ignorância eu o desconheça, mas certamente estaríamos entre os mais bem colocados se algo assim existisse.

Mas para isso, para nos tornarmos essa referência de sociedade, responsabilidade penso eu inalienável da nação brasileira, até porque, repito, Deus é nosso conterrâneo e a meu ver espera isso de nós, e que ninguém ouse contrariá-lo, afinal todos lembram de Sodoma e Gomorra.

Sei que há ainda um longo caminho a percorrer, mas me é muito claro que esse processo é possível, porque sou um otimista convicto que crê que a distância entre o possível e o impossível está no tamanho da determinação do homem. E para mim o único caminho para o Brasil dar esse salto transformador é a efetiva participação da sociedade. Quando essa afirmação tão repetida que já virou chavão dos pensadores de plantão, deixar de ser apenas retórica e passar a ser ação efetiva vamos virar referência para o mundo.

É preciso quebrar o que eu chamo de Paradigma do Protagonismo trazendo todos para a condição de agentes transformadores da sociedade.

Políticos e eleitores, industriais e industriários, professores e alunos, agricultores, médicos, motoristas, doutores, analfabetos, pobres e principalmente ricos, dos quais muitos o são, fruto do processo histórico de expropriação da riqueza e cidadania da maioria do povo.

Há que se criar na sociedade brasileira cada vez mais mecanismos de participação política e social, trazendo a população, sem nenhum tipo de distinção, para a condição de protagonista desse processo, incorporando os diversos saberes no sentido da construção de um projeto único de sociedade.

Projetos como o Orçamento Participativo se prestam a isso, mas precisam ir muito além do que transferir para o povo a decisão sobre o que é melhor para sua cidade, é preciso consolidar na sociedade estruturas que garantam, independentemente de quem está a frente do poder, seja ele político ou econômico, que as coisas vão se dar, como e para onde a maioria quer e sonha, tornando assim o povo definitivamente liberto do jugo das elites que historicamente vem se perpetuando no poder.

Há que se reconhecer olhando para o passado, sobretudo o passado recente, que avanços houveram, mas é preciso correr. Não é mais possível ficarmos idealizando o modelo de sociedade que queremos, mesmo que seja ele o mais belo cenário imaginável, o que precisamos de fato é criar e consolidar na sociedade mecanismos que garantam um constante processo de avaliação e transformação no sentido da construção de seus próprios caminhos, colocando nas mãos doutas e operárias, negras e brancas, mãos plurais como nosso país, essa condução.

Para mim, esse é o efetivo e real compromisso com a tão sonhada Democracia Participativa. Portanto fica aqui a reflexão, somos todos responsáveis, mas muito mais que isso, precisamos todos ser protagonistas desse processo, acordando do sono do imobilismo.

Saudações fraternas e ecológicas.

Ricardo Sérgio

terça-feira, novembro 21, 2006

Qual é a responsabilidade que temos com a transformação da sociedade ?

Ontem durante a tentativa do sono buscado em vão por horas a fio, comecei a refletir a respeito do papel e da responsabilidade que cada um de nós tem com o processo de transformação dessa sociedade tão injusta e desigual. E nessas reflexões notívagas, me chamou a atenção em especial, a responsabilidade que tem no meu entendimento, uma parcela significativa de nossa sociedade, os formados e formandos das universidades públicas, sejam elas estaduais ou federais.

É certo que o investimento feito na formação dessas pessoas é oriundo dos impostos pagos muitas vezes, e talvez na maior parte, pelos próprios, uma vez que grande parcela dos que freqüentam as bancas universitárias provem da classe média, maior pagadora dos escorchantes impostos brasileiros, que tem acesso a boas escolas e cursinhos preparatórios eficientes garantindo a eles o acesso às universidades federais e estaduais em uma concorrência desleal com os estudantes do ensino público, distorção tão conhecida de todos nós que desnecessário se faz discorrer a respeito, mas também é verdade que grande parte, desses recursos provem do trabalho árduo dos operários da construção civil, dos motoristas e cobradores de ônibus, das empregadas domésticas, dos micro-empresários, dos balconistas das lojas de sapatos, que muitas vezes tomam quatro ônibus para chegar até seu emprego, recebendo salários miseráveis por não terem tido acesso a esses ambientes acadêmicos, se qualificando e atingindo ocupações mais "nobres" e economicamente mais compensatórias.

Por isso queria trazer para a reflexão dos companheiros o compromisso que todos temos em resgatar a dívida com essa parcela da sociedade, que com seu suor e lágrimas, perdoem-me a dramaticidade, contribuem para a formação dos nossos médicos, engenheiros, arquitetos, filósofos, geógrafos, professores e doutores das mais variadas formações.

E aí comecei a devanear e imaginar um cenário onde esses profissionais, por força de lei, dariam uma retribuição a essa parcela operária de nossa sociedade, dedicando não em caráter voluntário, mas como contrapartida daquilo que receberam, um pouco de seu tempo e expertise, no sentido da melhoria da nossa sociedade.

Comecei a imaginar médicos renomados atendendo gratuitamente um paciente por dia, apenas um, em seus luxuosos e confortáveis consultórios, conquistados é preciso reconhecer, ao custo de muita dedicação e sacrifício pessoal, mas também com o suor desses nossos operários.


Nutricionistas dando explicações a pasteleira da feira livre do seu bairro sobre os malefícios da manipulação inadequada dos alimentos, arquitetos e engenheiros ajudando e orientando a parcela mais pobre de nossa população na construção e reordenamento de nossas milhares de favelas, garantindo assim um melhor controle urbano e principalmente garantindo diferentemente do que acontece hoje, que os barracos construídos precipitados às margens da encostas não desabarão, tirando preciosas vidas humanas, doutas ou operárias. Dentistas que poderiam realizar um único atendimento diário ajudando a reduzir as quilométricas filas dos postos de saúde, e ajudando assim a tirar o Brasil da condição de um país de desdentados, o administrador de empresas ou o contabilista orientando o quitandeiro da esquina de sua rua em práticas administrativas mais eficazes, ajudando assim a transformar o Brasil em um país mais moderno e eficiente.

E tudo isso viria acompanhado por um bônus para os formandos, formados, mestres e doutores. Primeiro se estabeleceria um processo de socialização nunca dantes visto no nosso país, onde a classe trabalhadora operária compartilharia com o meio pensante seus anseios, desejos e frustrações, em um processo de intercâmbio de vivências extremamente enriquecedor, e segundo, se teria por parte do meio acadêmico a possibilidade de se conhecer ainda mais o Brasil real, onde se constroe dia após dia, com a inteligência dos acadêmicos e com o suor dos operários um lugar único e tão especial, mas que carece ainda de muitos avanços no sentido da construção de uma sociedade mais igual e fraterna. Com a palavra nossos legisladores.

Saudações ecológicas.

Ricardo Sérgio

sexta-feira, novembro 17, 2006

Porque hoje é sexta

Apesar de ser sexta-feira, o limiar da semana, semana normalmente estafante e estressante para a maioria de nós, limiar este que abre a perspectiva do sábado prazeroso, do domingo preguiçoso, da proximidade com a família e com as pessoas que amamos, comecei essa sexta-feira extremamente indignado.

Abro os principais jornais locais, e leio em letras garrafais as seguintes manchetes “Tiroteio paralisa o centro”, “Recife lidera ranking de assassinatos” “Tiroteio no centro. Rendido, um dos bandidos foi levado preso até a margem do rio para DELÍRIO da população”, pasmem, delírio da população.

Talvez devêssemos mandar construir na área mais central da cidade, um pelourinho, onde poderíamos lá, satisfazer essa insanidade coletiva castigando com 20 chicotadas batedores de carteira, talvez 30 chicotadas para ladrões de velhinhas e cinqüenta chicotadas para assaltos a mão armada.

Não que eu não esteja acostumado com essa prática jornalística sensacionalista de carregar nas cores tudo aquilo que choca na busca do aumento das vendas, muitas vezes banalizando fatos que deveriam fazer qualquer ser humano são, chorar de indignação e tristeza.

Tão pouco me choca os fatos acima relatados, uma vez que como grande parte da população, já fui vítima da violência urbana, tendo sido assaltado, roubado, agredido, extorquido.

Mas hoje, talvez por ser a tão esperada sexta-feira, um dia que para mim e para muitos é especial por ser o dia do chopinho com os amigos, da busca pela boa conversa, da socialização com os colegas de trabalho, que eu comecei o dia me perguntando até quando vamos continuar a levantar os muros que dividem nossa sociedade.

Seremos todos cegos a ponto de não conseguirmos ver que de fato estamos nos protegendo de nós mesmos.

Será que as soluções para a resolução do grave e complexo problema da violência urbana residem nos vidros blindados, nas cercas eletrificadas, nos muros cada vez mais altos, no reaparelhamento do efetivo policial, municiando-os com armas cada vez mais poderosas e letais, igualando assim o poder de fogo dos marginais ? Será que a solução reside na ampliação dos efetivos das polícias, na construção de mais e mais presídios, na tão propalada geração de emprego e renda e nas políticas sociais “para que os pobres tenham oportunidades e não virem bandidos”.

Não quero aqui discutir, muito menos propor alternativas para a resolução da questão, até por que pouco sei sobre o tema para me arvorar da condição de pensar e propor a respeito.

Quero aqui, apenas gritar bem alto, tão alto quanto às manchetes que li em letras garrafais dos jornais de hoje e agora ecoam pelas ruas e pelas mentes da cidade.

Estou indignado e quero de volta a minha sexta-feira, quero poder esperar por ela, torcendo para a semana acabar, quero poder tomar meu chopinho com os amigos, aguardando pelo sábado prazeroso e pelo domingo preguiçoso, e não apenas isso, quero muito mais, quero as quintas, segundas, terças e quartas, quero de volta a liberdade de poder andar pela minha cidade, de poder olhar para o transeunte ao lado com um olhar terno, simpático, e desejar um bom dia, como já foi um dia, e deveria sempre ser, sem ficar imaginando se aquela pessoa vai a qualquer instante me apontar uma arma e roubar minha carteira e minha cidadania.

E para que não fique apenas a provocação nem a impressão de um sentimento egoísta de minha parte, deixo a reflexão de que definitivamente, precisamos TODOS, compreender na sua plenitude, o significado da palavra sociedade, e aí talvez, TODOS tenhamos garantido esse direito, para mim inalienável e imprescindível, de esperar pela sexta-feira.


Saudações ecológicas

Ricardo Sérgio

quarta-feira, novembro 08, 2006

O PT é imprescindível para o Brasil

Nesse momento que iniciamos um novo ciclo do processo de consolidação das instituições políticas do nosso país, com a recondução do Presidente Lula ao Palácio do Planalto, legitimado pelos mais de 58 milhões de votos e pela esperança de todo o povo brasileiro na construção de um país mais justo e fraterno, eu penso que o Partido dos Trabalhadores, que tanto contribuiu com o processo de pavimentação das vias democráticas de condução dos destinos de nosso país, precisa realizar uma profunda análise de tudo que aconteceu até então, sobretudo diante de todos os fatos e factóides vivenciados pelo meio político nos últimos dois anos.

É preciso que o partido aponte para o futuro, buscando ajustar os seus sonhos e planos a realidade posta. É preciso que o PT se questione a respeito de quem é, do que o move, de quais são seus reais interesses e objetivos, de quem e o que são seus adversários, e principalmente que rumo tomar. É preciso buscar respostas para essas e outras importantes questões.

Tudo isso sem caça as bruxas, sem revanchismos e buscando acima de tudo uma postura agregadora. Não é possível diante de tudo que o PT passou, aprofundar nesse momento ainda mais o processo de cisão do partido através de suas várias tendências, estabelecendo nesse instante discussões filosóficas e conceituais estéreis, ou aproveitando a fragilidade momentânea dessa ou daquela tendência para tentar estabelecer ou disputar hegemonia diretiva.

Acho inclusive, que é imprescindível estabelecer um processo de ausculta as suas bases através de seminários regionais que desembocariam em um grande congresso nacional do partido, que traria essas respostas e apontaria a direção a seguir, da maneira mais democrática, legítima e transparente, sem discussões fechadas entre caciques, como já foi um dia e como deveria sempre ser.

É chegada a hora, a bem do sucesso do maior projeto de transformação política e social já vivenciado por um país sul americano, de buscar o consenso e sobretudo unidade de ação, com estratégias claras e objetivas de soerguimento do PT.

É preciso perseguir o prosseguimento dessa experiência de transformação do Brasil em um lugar melhor e mais justo para a maioria da população, iniciado pelo Presidente Lula. Eu penso que talvez a alternativa seja buscar, não em pessoas nem em partidos, mas no próprio povo, os meios para continuar essa mudança, criando mecanismos que proporcionem uma avalanche de participação popular que nenhuma força política ou econômica conseguiria barrar.

E o PT, que surgiu no seio do povo, que tem suas bases, conceitos e sonhos, forjados pelos anseios da maioria, tem a missão inalienável de capitanear esse processo.

O Partido dos Trabalhadores é imprescindível nesse processo de evolução da democracia "representativa" e falida que ora vivemos, para uma Democracia Participativa, plural, onde todas as pessoas tenham de fato oportunidades, deveres e direitos iguais. Uma Democracia efetivamente cidadão, sonho de todos nós.

Saudações ecológicas.

Ricardo Sérgio

quarta-feira, novembro 01, 2006

Fome Zero de Informação e Cultura

Todos que vivemos no Brasil real, temos conhecimento das inúmeras mazelas sociais enfrentadas pela maior parte de nossa população, e da importância que políticas compensatórias como o Fome Zero tem para essas pessoas.

Mas preciso concordar e reforçar o que tem declarado o Presidente Lula através da imprensa recentemente. É preciso oferecer cada vez mais, as chamadas portas de saída para programas como esses, promovendo através de estratégias e programas, além do tão sonhado crescimento da economia com sua conseqüente geração de mais emprego e renda, a emancipação cidadã dessas pessoas, fazendo com que elas passem definitivamente a ser sujeitos de seus destinos.

Reconheço que na urgente necessidade de sobrevivência dos que tinham fome no nosso país, era preciso oferecer a essa enorme parcela da população a possibilidade de, parafraseando o que tem sido a cantilena do Presidente desde o primeiro dia do seu/nosso governo, “todo brasileiro poder fazer três refeições por dia”.

Mas agora é chegada a hora de promover uma virada nessa situação. Precisamos todos, governos e sociedade, promover a real democracia no nosso país. É preciso quebrar os grilhões que prendem nosso povo a miséria e a subserviência aos detentores do poder econômico e “intelectual”.

Para mim é muito claro que uma das principais e mais eficientes estratégias de perpetuação do poder na mão dessas elites, tem sido a privação do acesso a informação e a cultura, pois dificilmente um povo pobre, faminto, sem qualificação profissional e sem acesso a informação, se faz forte e capaz de assumir o controle de seu destino.

Por isso, avaliando tudo que já foi alcançado nesse primeiro governo, e olhando pra frente no desejo de enxergar um futuro de justiça social, proponho que busquemos desenvolver o Fome Zero de Informação e Cultura. É preciso libertar verdadeiramente nosso povo, e o único caminho é a educação, a democratização da informação e a valorização e promoção da cultura.

terça-feira, outubro 31, 2006

A Informação transforma pessoas e sociedades

O Brasil é um país de dimensões continentais e com uma diversidade cultural tão grande quanto seu território físico, e apesar de ser um país, com uma só língua e uma religião comum predominante, existem condutas comportamentais e culturais diferentes, parte influenciadas pelas diferenciações fisiográficas e parte por fatores históricos, como movimentos migratórios e colonizadores.

Apesar de possuir enormes riquezas naturais, um moderno parque industrial, alta tecnologia em quase todos os campos da ciência moderna, e ser considerada uma das 10 maiores economias do mundo, o Brasil também figura entre os 10 países com pior distribuição de renda do planeta, sendo ainda detentor de vergonhosas estatísticas sociais, sobretudo quando nos debruçamos sobre os municípios da região Nordeste do nosso país, onde se encontram a maior parte dos municípios pobres brasileiros.

Segundo dados da ONU o IDH médio destes municípios pobres do Nordeste não passa de 0,600, situando-se a maior parte deles abaixo da faixa denominada de linha de pobreza, acumulando mazelas sociais das mais diversas, nas áreas de saúde, educação, saneamento, segurança e direitos.

Grande parte deste quadro de miséria se deve ao fato de que historicamente as classes dominantes vem decidindo o destino das populações, sobretudo destes municípios mais pobres e distantes dos grandes centros, a revelia das pessoas, usurpando direitos e estabelecendo estratégias de manutenção do poder.

Uma destas estratégias de manutenção do poder é privação da informação e do acesso à cultura, pois um povo pobre, faminto e sem informação e cultura, dificilmente vai conseguir tomar em suas próprias mãos a condução de seus destinos, ficando sujeitos a este círculo vicioso de pobreza, sem capacidade de crítica, organização e mobilização.

A informação é transformadora fazendo com que as pessoas passem a ser sujeitos de seus destinos.

Atualmente nossa nação vive um novo momento político-social onde se constata uma enorme vontade de participação popular, configurando-se este momento como crucial neste processo de democratização da informação, com vistas à formação de um povo mais cidadão, conhecedor de seus direitos e deveres.

Diante desse grave cenários constatamos que devido a diversos fatores, geográficos, econômicos, culturais e políticos, os municípios do interior do Nordeste brasileiro tem sofrido ainda mais do que o restante do país, haja visto os indicadores sociais destes municípios, que refletem claramente a importância e a urgente necessidade de informação, organização e mobilização destas populações.
A maior parte das pessoas moradoras nestes municípios sequer ouviram falar em temas como meio ambiente, cidadania, saúde ambiental, valorização da cultura, direitos sociais básicos, etc.

Muitas das constatações elencadas acima ocorrem também nas periferias das grandes cidades, verificando-se a existência de inúmeros bolsões de pobreza, sobretudo nas capitais.

O que queremos trazer para discussão é a urgente necessidade do estabelecimento de estratégias governamentais de minimização destes problemas, através de políticas públicas que levem informação transformadora além da disseminação de práticas ambientais e sociais sustentáveis a esses municípios mais pobres, cumprindo assim seu papel constitucional de capitanear como legítimos representantes dessa parcela da população que historicamente tiveram seus direitos negados, o processo de construção de uma sociedade mais justa, democrática e plural.

Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar

As sociedades industriais contemporâneas pressupõem a colocação no mercado de produtos cuja obsolescência é atingida em tempos cada vez mais curtos. Os avanços tecnológicos incorporados ao lançamento de novos modelos são vendidos através de uma estrutura globalizada de marketing que tem como objetivo transformar supérfluos em necessidades básicas do consumidor. É um modelo de desenvolvimento econômico, social e ambiental insustentável inteiramente divergente com os princípios da Agenda 21.

As embalagens necessárias à proteção de produtos, que se movimentam em rotas intercontinentais, são necessariamente robustas e volumosas, também porque se constituem em motivação de compra para consumidores que se transformam em grandes geradores de lixo. O resultado é conhecido: o volume de lixo per capta gerado tem aumentado significativamente nas últimas décadas. Atualmente são gerados aproximadamente 240 mil toneladas de lixo por dia no Brasil. Desse total, cerca de 100 mil corresponde ao lixo domiciliar, em que apenas 70% é coletado. Cerca de 80% é lançado a céu aberto, em cursos d’água, e em áreas que se constituem em lixões que além de poluir o ambiente atraem para si toda sorte de degradação social.

O resultado obtido por esta situação afeta diretamente a saúde pública e compromete o meio ambiente. Os lixões fornecem condições propícias para proliferação de vetores de doenças como moscas, baratas e ratos. Além disso, o dano ambiental também é grande, já que, além da liberação de gases, a decomposição do lixo gera o chorume, líquido que contamina o solo, o ar e os recursos hídricos, além do desperdício do enorme potencial econômico financeiro e ambiental contido nos materiais recicláveis.

Atualmente as administrações municipais gastam enormes parcelas dos recursos públicos com a limpeza de suas cidades, consumindo para tanto recursos que vão de 8% a 15% de seus orçamentos. Apesar destes gastos elevados, a maioria das cidades continuam sujas e sem perspectivas de solução. Literalmente, tem-se jogado muito dinheiro no lixo.


Diante do enorme desafio do enfrentamento das inúmeras mazelas ambientais e sociais causadas pela má gestão do lixo urbano, é cada vez mais claro que deverá caber à sociedade modificar os seus padrões de comportamento no sentido de controlar as vias de poluição, gerar menos resíduos, reutilizá-los de forma adequada ou condicioná-los em aterros sanitários. Aos governos, compete interpretar os anseios da sociedade de forma que se garanta a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida do cidadão.

A renovação dos recursos naturais e a utilização de produtos menos agressivos ao meio ambiente exigem não apenas a evolução dos processos industriais, como também o envolvimento das populações, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida nas cidades.

No âmbito do município, a redução do lixo produzido é o modo mais eficaz de diminuição dos impactos ambientais, dando ênfase, dentro de todo o processo à política dos 4 Rs: Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. A consecução desse objetivo está relacionada em cadeia com as operações de manuseio, coleta e transporte e destinação final. Assim, a reutilização do que seria lixo inaugura uma nova era, em que os materiais recicláveis retornam à indústria de transformação, com o que se reduzem o consumo de matéria-prima e os custos finais dos produtos; Volta, à natureza, a matéria orgânica mineralizada, sob a forma de compostos, para melhorar a qualidade do solo.

Mas estas alternativas de solução não poderão ser criadas nem geridas de forma isolada pelo poder público. Constata-se que é imprescindível o envolvimento da sociedade na discussão e ampliação do entendimento da questão ambiental, entendendo-se que a degradação dos recursos naturais está intimamente associada à degradação do próprio ser humano. O equilíbrio ambiental envolve a busca da qualidade de vida humana em todos os sentidos.