domingo, maio 06, 2007

Há que se crer na natividade da morte

Essa semana me deparei com dois episódios de perda de pessoas queridas que me levaram a uma reflexão a cerca da vida e da morte.

Recebi há algum tempo um email, como desses que recebemos as dezenas diariamente de diversas pessoas, e achei o texto muito interessante. O texto falava sobre a vida, comparando-a com uma viagem de trem. E ai, me arvoro da condição de plagiador do enredo do referido texto para extrapolar um pouco e comparar nossa existência entendendo-a não como vida , mas como existência infinita, onde temos uma alma imortal que creio viajar em uma jornada sem fim onde fazemos várias paradas em diversas estações.

Nessas paradas muitas pessoas entram e saem do mesmo vagão que nós. Muitas fazem diferença e influenciam nossa viagem, outras não, são apenas transeuntes do destino. Quase sempre uma delas senta ao nosso lado e compartilha da viajem conosco, conversando e observando a paisagem que se descortina na janela, nos ajudando a compreender as coisas, deixando que cochilemos no seu ombro, sendo verdadeiros parceiros da jornada. Outras vezes, a grande maioria, entra no mesmo vagão que nós, mas nem se dá conta que lá estamos, às vezes até nos são mal educados, pisam nos nossos pés, nos empurram, nos molham com seus guarda-chuvas molhados sem sequer pedir licença ou desculpas, disputando pelo melhor lugar do vagão para usufruir egoisticamente de sua viajem, sem importar com os que precisam por diversas razões de condições mais confortáveis, às vezes até indispensáveis para chegar até o fim da viajem.

Mas uma coisa para mim é muito certa, essa viagem, como todas as outras nos levará a algum lugar, pois não consigo conceber um trem cheio de gente, conduzido por alguém que conhece todos os caminhos, e que chegando ao final dos trilhos simplesmente parará, em um lugar escuro, vazio de tudo, onde permaneceríamos estáticos, esperando pelo nada, que para mim, e para a física moderna não existe.

Penso que esse trem nos levará a algum lugar, onde apenas desconfio onde seja, baseado em minhas crenças pessoais, e que lá no final da jornada desembarcaremos todos, e encontraremos algo, mas o que muito mais me importa não é o que me aguarda no final da viagem, mas sim como nos comportamos durante o trajeto.

Muito mais me importa o comportamento que temos com as pessoas que sentam ao nosso lado na jornada, as conversas que travamos, os conhecimentos que compartilhamos, o que cedemos e o que recebemos, a tolerância com o próximo, a gentileza que nada nos custa. Penso inclusive, ai mais uma vez baseado em minhas crenças pessoais, crenças essas que são compartilhadas por bilhões de pessoas em todo o mundo, desde os cristãos que crêem no céu aos muçulmanos que esperam pelas suas quarenta virgens no paraíso, e que essa conduta nos garantirá algum bônus pelo bilheteiro no final da viagem.

Penso que a forma como nos comportamos e agimos nessa vigem é que faz a grande diferença. Não podemos ser apenas expectadores da paisagem, colocando a cabeça para fora da janela para fugir do cheiro que exala do interior do vagão. Precisamos todos ser agentes de mudança nas condições interiores desse ambiente partilhado por todos, e quando pudermos, conversarmos com o motorneiro pedindo a ele que o trem siga rumos onde as paisagens sejam mais agradáveis.

Não temo o que vou encontrar no final da jornada, até porquê creio de fato na natividade da morte, e que essa vida é apenas mais uma parada em uma das várias estações da jornada, apenas queria que essa viagem fosse mais agradável a mim e a todos com os quais compartilho-a.

Às vezes nos vemos cansados e gostaríamos de sentar um pouco, trocando de lugar com os que chegaram mais cedo na estação e conseguiram um lugar na janela, pessoas que sentaram primeiro e pouco se importam com a mãe que carrega nos braços uma criança que chora faminta, uma senhora já idosa cheia de sacolas, um senhor apoiado em um par de muletas. Sejamos mais solidários na viajem, e principalmente cuidemos todos desse trem pois pode ser que sem os cuidados necessários ele fique pelo caminho apesar da sapiência e habilidade do condutor, mas acima de tudo, compartilhemos os lugares nas janelas para que todos possam apreciar a beleza das paisagens... Para que todos possam ver o Sol e as Flores Amarelas do caminho...

Quero ver todos vocês sentados na poltrona ao lado da minha durante toda a viagem, apreciando a paisagem, sorrindo, e às vezes chorando, junto comigo, conversando e contando histórias sobre as coisas que veremos, aprendendo uns com os outros e escrevendo um diário de viagem onde certamente registraremos muitas páginas de felicidade.

Ricardo Sérgio

Saudações fraternas e ecológicas