sexta-feira, novembro 24, 2006

Paradigma do Protagonismo

Queria encerrar a semana deixando para os raros companheiros que acompanham meu blog, fica aqui o agradecimento, a seguinte provocação. Até quando vamos dormir o sono do imobilismo ?

O mundo muda a cada volta que dá, a cada novo dia, hora, minuto e segundo. Novas tecnologias, velhas maldades, novas idéias, velhos preconceitos, mas sempre mudando, às vezes evoluindo às vezes involuindo, usando como referência para isso a acepção da palavra progresso, e o Brasil definitivamente, e cada vez mais, faz parte desse processo globalizado de transformações, desempenhando um papel fundamental, não só como “celeiro do mundo, pulmão da terra, maior fonte de energia renovável do planeta, detentor dos maiores mananciais de água doce superficiais do planeta”, mas temos, a meu ver, uma responsabilidade ainda maior.

Temos a responsabilidade de ser muito mais que a grande alternativa de disponibilização de energia e alimento que virá garantir a subsistência da raça humana nos próximos séculos, acho que temos, e podemos ser um exemplo de sociedade, no mais amplo sentido da palavra.

O resultado do processo de miscigenação e formação do brasileiro, plural, forjado nas lutas libertárias de todos os povos que hoje se fundem para formar uma única raça, a raça brasileira, a despeito de muitos que ainda carregam vários preconceitos estupidamente em seus corações, achando que são brancos, pretos, índios ou estrangeiros, soma-se ao fato de ser Deus brasileiro, o que nos imputa essa responsabilidade com o resto do mundo, de ser referência de justiça social, distribuição de renda, e o mais importante, distribuição de afeto e alegria de viver, enxergando-nos a todos como pares, como iguais.

Temos o compromisso de ser exemplo para o mundo, ensinando aos racionais alemães, aos disciplinados japoneses, aos mercantilistas americanos, como se distribui a alegria de viver que só esse processo de formação da raça brasileira, com as bênçãos de Deus nosso conterrâneo, conseguimos aprender.

Acho até que deveria ser instituído um índice que medisse isso, Índice da Alegria de Viver, talvez até o haja e em minha ignorância eu o desconheça, mas certamente estaríamos entre os mais bem colocados se algo assim existisse.

Mas para isso, para nos tornarmos essa referência de sociedade, responsabilidade penso eu inalienável da nação brasileira, até porque, repito, Deus é nosso conterrâneo e a meu ver espera isso de nós, e que ninguém ouse contrariá-lo, afinal todos lembram de Sodoma e Gomorra.

Sei que há ainda um longo caminho a percorrer, mas me é muito claro que esse processo é possível, porque sou um otimista convicto que crê que a distância entre o possível e o impossível está no tamanho da determinação do homem. E para mim o único caminho para o Brasil dar esse salto transformador é a efetiva participação da sociedade. Quando essa afirmação tão repetida que já virou chavão dos pensadores de plantão, deixar de ser apenas retórica e passar a ser ação efetiva vamos virar referência para o mundo.

É preciso quebrar o que eu chamo de Paradigma do Protagonismo trazendo todos para a condição de agentes transformadores da sociedade.

Políticos e eleitores, industriais e industriários, professores e alunos, agricultores, médicos, motoristas, doutores, analfabetos, pobres e principalmente ricos, dos quais muitos o são, fruto do processo histórico de expropriação da riqueza e cidadania da maioria do povo.

Há que se criar na sociedade brasileira cada vez mais mecanismos de participação política e social, trazendo a população, sem nenhum tipo de distinção, para a condição de protagonista desse processo, incorporando os diversos saberes no sentido da construção de um projeto único de sociedade.

Projetos como o Orçamento Participativo se prestam a isso, mas precisam ir muito além do que transferir para o povo a decisão sobre o que é melhor para sua cidade, é preciso consolidar na sociedade estruturas que garantam, independentemente de quem está a frente do poder, seja ele político ou econômico, que as coisas vão se dar, como e para onde a maioria quer e sonha, tornando assim o povo definitivamente liberto do jugo das elites que historicamente vem se perpetuando no poder.

Há que se reconhecer olhando para o passado, sobretudo o passado recente, que avanços houveram, mas é preciso correr. Não é mais possível ficarmos idealizando o modelo de sociedade que queremos, mesmo que seja ele o mais belo cenário imaginável, o que precisamos de fato é criar e consolidar na sociedade mecanismos que garantam um constante processo de avaliação e transformação no sentido da construção de seus próprios caminhos, colocando nas mãos doutas e operárias, negras e brancas, mãos plurais como nosso país, essa condução.

Para mim, esse é o efetivo e real compromisso com a tão sonhada Democracia Participativa. Portanto fica aqui a reflexão, somos todos responsáveis, mas muito mais que isso, precisamos todos ser protagonistas desse processo, acordando do sono do imobilismo.

Saudações fraternas e ecológicas.

Ricardo Sérgio