sexta-feira, novembro 17, 2006

Porque hoje é sexta

Apesar de ser sexta-feira, o limiar da semana, semana normalmente estafante e estressante para a maioria de nós, limiar este que abre a perspectiva do sábado prazeroso, do domingo preguiçoso, da proximidade com a família e com as pessoas que amamos, comecei essa sexta-feira extremamente indignado.

Abro os principais jornais locais, e leio em letras garrafais as seguintes manchetes “Tiroteio paralisa o centro”, “Recife lidera ranking de assassinatos” “Tiroteio no centro. Rendido, um dos bandidos foi levado preso até a margem do rio para DELÍRIO da população”, pasmem, delírio da população.

Talvez devêssemos mandar construir na área mais central da cidade, um pelourinho, onde poderíamos lá, satisfazer essa insanidade coletiva castigando com 20 chicotadas batedores de carteira, talvez 30 chicotadas para ladrões de velhinhas e cinqüenta chicotadas para assaltos a mão armada.

Não que eu não esteja acostumado com essa prática jornalística sensacionalista de carregar nas cores tudo aquilo que choca na busca do aumento das vendas, muitas vezes banalizando fatos que deveriam fazer qualquer ser humano são, chorar de indignação e tristeza.

Tão pouco me choca os fatos acima relatados, uma vez que como grande parte da população, já fui vítima da violência urbana, tendo sido assaltado, roubado, agredido, extorquido.

Mas hoje, talvez por ser a tão esperada sexta-feira, um dia que para mim e para muitos é especial por ser o dia do chopinho com os amigos, da busca pela boa conversa, da socialização com os colegas de trabalho, que eu comecei o dia me perguntando até quando vamos continuar a levantar os muros que dividem nossa sociedade.

Seremos todos cegos a ponto de não conseguirmos ver que de fato estamos nos protegendo de nós mesmos.

Será que as soluções para a resolução do grave e complexo problema da violência urbana residem nos vidros blindados, nas cercas eletrificadas, nos muros cada vez mais altos, no reaparelhamento do efetivo policial, municiando-os com armas cada vez mais poderosas e letais, igualando assim o poder de fogo dos marginais ? Será que a solução reside na ampliação dos efetivos das polícias, na construção de mais e mais presídios, na tão propalada geração de emprego e renda e nas políticas sociais “para que os pobres tenham oportunidades e não virem bandidos”.

Não quero aqui discutir, muito menos propor alternativas para a resolução da questão, até por que pouco sei sobre o tema para me arvorar da condição de pensar e propor a respeito.

Quero aqui, apenas gritar bem alto, tão alto quanto às manchetes que li em letras garrafais dos jornais de hoje e agora ecoam pelas ruas e pelas mentes da cidade.

Estou indignado e quero de volta a minha sexta-feira, quero poder esperar por ela, torcendo para a semana acabar, quero poder tomar meu chopinho com os amigos, aguardando pelo sábado prazeroso e pelo domingo preguiçoso, e não apenas isso, quero muito mais, quero as quintas, segundas, terças e quartas, quero de volta a liberdade de poder andar pela minha cidade, de poder olhar para o transeunte ao lado com um olhar terno, simpático, e desejar um bom dia, como já foi um dia, e deveria sempre ser, sem ficar imaginando se aquela pessoa vai a qualquer instante me apontar uma arma e roubar minha carteira e minha cidadania.

E para que não fique apenas a provocação nem a impressão de um sentimento egoísta de minha parte, deixo a reflexão de que definitivamente, precisamos TODOS, compreender na sua plenitude, o significado da palavra sociedade, e aí talvez, TODOS tenhamos garantido esse direito, para mim inalienável e imprescindível, de esperar pela sexta-feira.


Saudações ecológicas

Ricardo Sérgio

Um comentário:

Anônimo disse...

Palavras tão belas quanto reais! Imagine só como me senti quando dois homens entraram drogados e armados no ônibus em que eu estava a caminho para o trabalho e anunciaram que era um assalto?! Era quase uma hora da tarde da minha tão esperada e até então feliz sexta-feira. Mas aquela sensação de medo não merece ser sentida dia algum... Dia algum... O que acontece com ladrões? Caminham livremente por aí! Enquanto nós, passageiros da indignação, temos que trabalhar a cada dia um pouco mais, isso quando ao passar por situações deste tipo nos é permitido viver, então tentamos repor o que nos foi tirado sem trabalho algum por seres que não merecem sequer adjetivos.