terça-feira, novembro 21, 2006

Qual é a responsabilidade que temos com a transformação da sociedade ?

Ontem durante a tentativa do sono buscado em vão por horas a fio, comecei a refletir a respeito do papel e da responsabilidade que cada um de nós tem com o processo de transformação dessa sociedade tão injusta e desigual. E nessas reflexões notívagas, me chamou a atenção em especial, a responsabilidade que tem no meu entendimento, uma parcela significativa de nossa sociedade, os formados e formandos das universidades públicas, sejam elas estaduais ou federais.

É certo que o investimento feito na formação dessas pessoas é oriundo dos impostos pagos muitas vezes, e talvez na maior parte, pelos próprios, uma vez que grande parcela dos que freqüentam as bancas universitárias provem da classe média, maior pagadora dos escorchantes impostos brasileiros, que tem acesso a boas escolas e cursinhos preparatórios eficientes garantindo a eles o acesso às universidades federais e estaduais em uma concorrência desleal com os estudantes do ensino público, distorção tão conhecida de todos nós que desnecessário se faz discorrer a respeito, mas também é verdade que grande parte, desses recursos provem do trabalho árduo dos operários da construção civil, dos motoristas e cobradores de ônibus, das empregadas domésticas, dos micro-empresários, dos balconistas das lojas de sapatos, que muitas vezes tomam quatro ônibus para chegar até seu emprego, recebendo salários miseráveis por não terem tido acesso a esses ambientes acadêmicos, se qualificando e atingindo ocupações mais "nobres" e economicamente mais compensatórias.

Por isso queria trazer para a reflexão dos companheiros o compromisso que todos temos em resgatar a dívida com essa parcela da sociedade, que com seu suor e lágrimas, perdoem-me a dramaticidade, contribuem para a formação dos nossos médicos, engenheiros, arquitetos, filósofos, geógrafos, professores e doutores das mais variadas formações.

E aí comecei a devanear e imaginar um cenário onde esses profissionais, por força de lei, dariam uma retribuição a essa parcela operária de nossa sociedade, dedicando não em caráter voluntário, mas como contrapartida daquilo que receberam, um pouco de seu tempo e expertise, no sentido da melhoria da nossa sociedade.

Comecei a imaginar médicos renomados atendendo gratuitamente um paciente por dia, apenas um, em seus luxuosos e confortáveis consultórios, conquistados é preciso reconhecer, ao custo de muita dedicação e sacrifício pessoal, mas também com o suor desses nossos operários.


Nutricionistas dando explicações a pasteleira da feira livre do seu bairro sobre os malefícios da manipulação inadequada dos alimentos, arquitetos e engenheiros ajudando e orientando a parcela mais pobre de nossa população na construção e reordenamento de nossas milhares de favelas, garantindo assim um melhor controle urbano e principalmente garantindo diferentemente do que acontece hoje, que os barracos construídos precipitados às margens da encostas não desabarão, tirando preciosas vidas humanas, doutas ou operárias. Dentistas que poderiam realizar um único atendimento diário ajudando a reduzir as quilométricas filas dos postos de saúde, e ajudando assim a tirar o Brasil da condição de um país de desdentados, o administrador de empresas ou o contabilista orientando o quitandeiro da esquina de sua rua em práticas administrativas mais eficazes, ajudando assim a transformar o Brasil em um país mais moderno e eficiente.

E tudo isso viria acompanhado por um bônus para os formandos, formados, mestres e doutores. Primeiro se estabeleceria um processo de socialização nunca dantes visto no nosso país, onde a classe trabalhadora operária compartilharia com o meio pensante seus anseios, desejos e frustrações, em um processo de intercâmbio de vivências extremamente enriquecedor, e segundo, se teria por parte do meio acadêmico a possibilidade de se conhecer ainda mais o Brasil real, onde se constroe dia após dia, com a inteligência dos acadêmicos e com o suor dos operários um lugar único e tão especial, mas que carece ainda de muitos avanços no sentido da construção de uma sociedade mais igual e fraterna. Com a palavra nossos legisladores.

Saudações ecológicas.

Ricardo Sérgio

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do texto Ricardo, mas infelizmente são poucas as pessoas que não deixam essas idéias apenas no papel, as pessoas geralmente não se contentam apenas com uma gratificação social, buscam sempre um incentivo financeiro, e é esse um dos obstáculos que a sociedade enfrenta para se desenvolver.